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‘Vivemos um luto coletivo; não são números, são pessoas’, diz psicóloga sobre perdas

Na foto psicóloga Rosângela Leoni; segundo ela, as fases do luto não são lineares e cada um passa pelas mesmas em diferentes períodos

Foto: Lucas Selvati

 

Da Redação

 

O ano de 2020 bateu recorde de estresse, segundo apontou o relatório global de emoções feito pela Gallip, uma empresa americana especializada em pesquisa de opinião. O ano foi o mais estressante dos últimos 15 anos, e muito se deve a pandemia do coronavírus e ao luto causado pela perda de parentes e amigos que muitas pessoas tiveram que enfrentar. Segundo a psicóloga Rosângela Leoni, “no início da pandemia as pessoas se assustaram muito com o vírus e não havia, ainda, muito conhecimento, e isso pode ter colaborado para o aumento de casos de doenças mentais e na mudança de como lidar com o luto”.

Os motivos para o estresse são muitos: medo de morrer, de perder pessoas queridas, de ser intubado ou de precisar intubar alguém que ame. Rosângela explica que durante a pandemia vivemos o “luto coletivo”, “a dor do outro também passou a ser minha dor. Não são números e sim pessoas. Além dessas pessoas perdemos rotinas, trabalhos, sonhos (...)”, completa.

 

Etapas do luto

 

A psicóloga explica que as etapas do luto não são causadas em uma direção linear, que cada pessoa tem sua maneira de lidar com perdas, e às vezes, acaba, inclusive, voltando algum estágio anterior antes de avançar.

“Os estágios do luto de Elizabeth Kubler Ross foram adaptados para a curva da mudança de Kubler Ross e passa a ser: surpresa ou choque com a informação, descrença e busca de evidências de que não é verdade, muita impotência e raiva, depressão, experimentação a novas situações, decisão de aprender a trabalhar com a nova situação e adaptação, podendo oscilar não nesta ordem. Meu conselho é procurar um psicólogo para lidar melhor com essa fase”, comenta a Rosângela.

 

Depoimento

 

Adriana de Oliveira perdeu o marido para a covid, ela conta que receber essa notícia foi devastador. “Meu marido faleceu no dia 10 de janeiro, e a experiência de perder alguém assim não tem explicação. Me vi em um buraco sem fundo, no frio, no escuro, desprotegida, sem perspectiva de qual caminho que deveria seguir; me vi sem identidade”.

Adriana conta que teve crises agudas de ansiedade. “Hoje, sinto que dia após dia estou encontrando novos sentidos. A dor ainda é imensa, mas hoje sinto que posso e devo recomeçar”.

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