Secretaria da Saúde de SP destaca mês de conscientização sobre o lipedema
Reconhecida como doença em 2022, condição crônica está ligada a alterações hormonais que levam a depósitos de gordura em regiões específicas
Foto: Govesp
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo registrou, de janeiro a abril de 2023, 102 cirurgias relacionadas ao tratamento do lipedema. Em 2022, mesmo ano em que foi reconhecida como doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição vascular crônica que atinge cerca de 12,3% das mulheres no Brasil foi a causa de 245 procedimentos cirúrgicos. Apesar de ser tão comum, o lipedema ainda é pouco diagnosticado.
“Basicamente, o lipedema é uma doença antiga, mas, por falha no diagnóstico, se confundiu por anos com a obesidade,” afirma o Dr. Vinícius Bertoldi, especialista em cirurgia vascular e endovascular do Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Segundo ele, “a grande dificuldade é que, como é uma doença que tem atuação multidisciplinar no diagnóstico e no tratamento, fica muito difícil saber a qual profissional procurar e quando procurar. A nossa recomendação é buscar um cirurgião vascular, que já pode fazer um diagnóstico imediato e diferencial com outras doenças que podem ser confundidas com lipedema”.
Com a demora no diagnóstico, a doença pode levar a complicações importantes devido à inflamação constante e aumento do tecido gorduroso nos braços, pernas e quadril. A inflamação generalizada nessas áreas causa dores, e problemas de circulação e de mobilidade, acarretando um grande prejuízo à qualidade de vida dos pacientes. O tratamento envolve especialistas vasculares, cirurgiões plásticos, nutricionistas, endocrinologistas, fisioterapeutas e psicólogos, que fazem o acompanhamento dos pacientes para que a doença, que é crônica, retroceda até um ponto ideal em que os sintomas estejam controlados e para que não retornem.
O tratamento da doença demanda dieta restritiva e continuada, como a de pacientes hipertensos ou com diabetes, mas focada em alimentos com ação anti-inflamatória, como frutas e vegetais frescos e com a exclusão de açúcares e certos tipos de gorduras. É necessário, também, manter uma rotina de exercícios, sobretudo aeróbicos e de baixo impacto, melhorando a circulação e acarretando menor acúmulo de gordura nas regiões afetadas. As cirurgias vasculares e de lipoaspiração específica para lipedema são os tratamentos que trazem o maior benefício aos pacientes em estágios mais avançados. São recomendados, também, procedimentos de drenagem linfática e uso de dispositivos de compressão elástica para reduzir o inchaço e estimular a circulação.
É lipedema?
Embora as causas do lipedema ainda sejam desconhecidas, os especialistas acreditam que a doença seja genética e hereditária. Geralmente os sintomas aparecem após grandes mudanças no nível dos hormônios femininos, motivo pelo qual a doença atinge principalmente mulheres. Essas alterações podem ocorrer na puberdade, na gravidez, durante terapias de reposição hormonal ou na menopausa.
A diferença mais notável entre lipedema e obesidade é a distribuição do tecido adiposo. Enquanto em pessoas que estão apenas acima do peso ideal a gordura se distribui de forma homogênea pelo corpo, a pessoa com lipedema apresenta concentração desproporcional de células adiposas na região dos braços, coxas, pernas e quadril. Assim, é comum que a pessoa tenha cintura, pescoço, rosto, mãos e pés magros ou menores em proporção às áreas afetadas, onde se formam os chamados “manguitos” ou “manguinhas” de gordura. Há casos raros de pessoas em que o lipedema se desenvolve no abdômen, rosto e axilas.
Além disso, a pessoa com lipedema tem distribuição simétrica desse tecido adiposo desproporcional no corpo. Ou seja, ambas as pernas e ambos os braços são igualmente afetados, o que diferencia a doença de outras como o linfedema, que é uma obstrução dos vasos linfáticos e que causa inchaço e deformação semelhante ao lipedema, mas que pode afetar as partes do corpo com graus diferentes de intensidade.
Um dos principais problemas associado ao lipedema em seus estágios iniciais é estético. A gordura se concentra nessas regiões, é de difícil eliminação e se confunde com o inchaço provocado pela inflamação. Além disso, a doença produz nódulos no tecido adiposo, que podem ser sentidos embaixo da pele, o que dá uma aparência flácida e ondulada que pode se assemelhar à celulite. No entanto, outros sintomas, mesmo nesses estágios mais brandos, incluem hipersensibilidade ao toque nas áreas afetadas, desconforto, sensação de peso nas pernas, inchaço constante, queda de cabelos, e surgimento de equimoses (manchas roxas) nas pernas sem razão aparente.
Com a progressão da doença, a inflamação desse tecido adiposo agrava problemas de circulação e do sistema linfático, aumentando o inchaço e agravando a insuficiência venosa dos membros inferiores. Como o lipedema afeta a mobilidade, também compromete a capacidade dos pacientes de perder a gordura localizada por meio de exercícios e atividade física. O impacto psicossocial da doença também é grande, com todos os estigmas ligados a casos extremos de obesidade, mas de resolução ainda mais difícil e podendo até levar a distúrbios alimentares previamente inexistentes.