O sardão esperto
Por GB Edições
Bem aquecido ao forte sol da tarde de verão, o corpo de um verde intenso desliza com agilidade pelo solo. Ao pé de uma árvore, o bicho para por um instante; depois começa a subir. As unhas, agudas e curvas, facilitam a escalada. Nos galhos que atinge, o sardão vai devorando centopeias, insetos, larvas e lagartas. E falando em lagartas, ele só não come as peludas porque elas provocam uma desagradável irritação na mucosa de sua boca.
De vez em quando, ele captura um besouro e, antes de devorá-lo, fica a dar-lhe tapas e mordidas leves, cada vez que o bicho tenta abrir as asas ou correr. É o mesmo jogo do gato com o camundongo. Finalmente, o sardão abocanha a presa e passa a língua pela boca sem lábios.
Mas o tempo corre, o sol vai baixando e, ao mesmo tempo, vai-lhe caindo a temperatura do corpo. É quase noite, o sardão precisa recolher-se à toca antes que seus movimentos se tornem vagarosos demais.
Desce da árvore um macho adulto, de 40 centímetros de comprimento. Apesar disso, é presa fácil para a fera que lhe vem ao encalço.
Já no chão, o lagarto se vê frente a frente com a marta, um animal carnívoro do tamanho de um gato do mato, cuja pele é muito apreciada. Dispara numa corrida veloz e desesperada, entra num riacho próximo, a marta também, a água se revolve numa turbulência.
Momentos depois, a marta emerge cansada e sobe à margem do riacho. Ainda não foi desta vez que conseguiu o almoço. Do outro lado da margem, o sardão já em terra continua correndo em busca de sua toca. Desta vez escapou por pouco.
VOCÊ SABIA?
O sardão pertence à classe do Répteis e se alimentam principalmente de lesmas, insetos e larvas. Sua língua é bífida, ou seja, partida ao meio, o que dá a impressão que ele tem duas línguas.
Apesar de sua aparência, quando criados desde pequenos com mel e larvas, eles acabam sendo domesticados e capazes de reconhecer a pessoa que os alimenta, são inofensivos no cativeiro.
Geralmente no mês de maio, as fêmeas do sardão cavam tocas próprias e põem de 6 a 21 ovos. Depois de 70 a 100 dias nascem os filhotes já famintos e aptos a caçar insetos e vermes.
Imóveis sobre as pedras, os sardões gostam de se aquecer ao sol. Incapazes de regular a temperatura do corpo, seu organismo fica menos ativo à baixa temperatura.
Alguns machos chegam a perder a cauda, que nasce outra vez, nas lutas que travam na disputa pelas fêmeas. No acasalamento, até elas saem feridas.
Às vezes, a cauda renasce bífida, isto é, dupla, depois do sardão havê-la perdido em combate ou acidente.
Os machos adultos costumam ser muito ferozes e conseguem defender-se com sucesso até das cobras que costumam devorá-los.