Nossa Senhora do Belém: tradição e união da sociedade
Na foto: Imagem de Nossa Senhora do Belém
Foto: Divulgação
Texto por: Luís Soares de Camargo
Há exatos 229 anos chegava a Itatiba a primitiva imagem de Nossa Senhora do Belém. Veio protegida e muito bem guardada entre os pertences de D. Izidória Maria do Espírito Santo e de seu marido Antônio Rodrigues da Silva, o Sargentão.
Esculpida em madeira no estilo barroco, a imagem foi adquirida em meados do século XVIII pela família de D. Izidória em Congonhas do Campo, Minas Gerais.
Bairro do Cruzeiro
Transferindo-se para Jundiaí, Izidória se casou com Antonio Rodrigues da Silva e, em 1792 eles decidiram se mudar para Itatiba.
Um sítio recém-aberto no atual Bairro do Cruzeiro era o destino da família e, como de costume, não nos surpreenderia o fato de que a Santa logo estivesse nas mãos do casal para, num ato de fé, ser elevada ao alto como forma de abençoar a nova terra que eles escolheram para viver.
Sim, é possível que esta cena tenha ocorrido, até porque logo o Sargentão e D. Izidória construíram uma capela para abrigar a imagem e iniciaram a tradição de render homenagens a Nossa Senhora do Belém no dia 8 de setembro.
Tradição e união
Naquele ano de 1792 viviam em Itatiba apenas 42 famílias que somavam 266 habitantes. Até então eles viviam espalhados em seus sítios ao longo do Rio Atibaia, ou nas imediações do Ribeirão Jacaré. E este era um problema, pois a distância dificultava a integração do grupo.
Faltava um elo mais forte, ou algo que pudesse unir os moradores em torno de um ideal. E foi assim, através dos esforços de Izidória e do Sargentão que as rezas e os festejos a Nossa Senhora do Belém se transformaram em eventos de confraternização e de união entre aqueles primeiros itatibenses.
Padroeira
Logo eles escolheram Nossa Senhora do Belém como padroeira da povoação, fator esse essencial para o surgimento de um sentimento de pertencimento que evoluiu para a criação de uma identidade própria a um grupo até então disperso.
A união em torno da padroeira deu força aos moradores que se uniram para a consolidação daquele núcleo rural e, também, para a sua transformação em Freguesia em 1830 e depois em Vila no ano de 1857. Não por outra razão, o núcleo já promissor recebeu o primitivo nome de Belém. Era uma referência à Santa.
Hoje, passados 229 anos, o exemplo daqueles antigos itatibenses continua vivo e bem poderia nos inspirar. Nesse momento em que grupos promovem a intolerância e a discórdia, a bela lição de Izidória e do Sargentão está mais presente do que nunca, ou seja, a de que somente a união, a fraternidade e o diálogo podem construir algo positivo.