Maria-fumaça pode sair dos trilhos
ABPF precisa de R$ 150 mil mensais para pagar salários, fazer manutenção e comprar lenha
Foto: Divulgação
A pandemia provocou drástico impacto na operação das marias-fumaça que circulam entre Campinas e Jaguariúna e há risco de parar a partir deste mês . O isolamento imposto para o enfrentamento do novo coronavírus afastou os turistas, impediu a circulação dos trens nas fases mais restritivas e com isso as receitas caíram. A Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) precisa de R$ 150 mil mensais para pagar salários dos funcionários, cuidar da manutenção de locomotivas, vagões, carros, da linha férrea e comprar lenha, mas não tem recursos.
“Ficamos sem receitas e estamos fazendo serviços para terceiros na recuperação de material rodante para tentar manter a operação”, disse o diretor da entidade, Hélio Gazetta. A ABPF tem 21 funcionários, que estão afastados e recebendo o auxílio emergencial que termina este mês. "Não sabemos como será a partir de janeiro e o risco de parar a circulação dos trens é grande", disse.
A entidade não recebe recursos do setor público e sua receita vem da bilheteria e de serviços que funcionários e voluntários realizam na recuperação de locomotivas, vagões e trens originais que foram salvos de várias companhias ferroviárias antigas. Mas, mesmo em tempos de normalidade, as receitas não são suficientes para cobrir os custos operacionais e nem para investir em seu parque ferroviário na cidade. “A pandemia foi um grande golpe para nós”, afirmou.
Duas locomotivas diesel-elétricas, recuperadas pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária na Estação Carlos Gomes, em Campinas, irão operar o Trem Republicano foram restauradas pela associação com recursos aportados pela empresa Serra Verde Express, empresa concessionária do trecho, e serão também um leve respiro para a ABPF que receberá um percentual sobre as passagens vendidas.
Com a retorno à fase vermelha das regiões paulistas dias 1, 2 e 3 de janeiro, a ABPF suspendeu o passeio que estava previsto para sexta-feira e no sábado e domingo operará somente meio percurso, obedecendo o distanciamento dos passageiros exigido pelas regras sanitárias.
A ABPF é dona de um dos mais ricos acervos de locomotivas movidas a vapor do mundo. Em Campinas está o maior acervo de marias-fumaças da América Latina (são 16 locomotivas a vapor e 60 carros e vagões) graças ao trabalho de garimpagem realizado pelos associados. São ex-ferroviários e apaixonados por trens que dedicam parte de seu tempo a recolher preciosidades históricas abandonadas em pátios desativados. Sem isso, um importante acervo histórico estaria distribuído pelo país correndo o risco de ser corroído pela ferrugem ou virar sucata.
Aos sábados, domingos e feriados os trens percorrem um trajeto que era inicialmente um trecho da linha-tronco da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro, desativada no início da década de 1970, quando a sua sucessora, a Ferrovia Paulista S.A. (FEPASA), passou a usar a extensão de uma variante para atender a Refinaria do Planalto em Paulínia e desativou o transporte sobre trilhos na antiga linha, criada ainda no século XIX .
Até 1985 a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária manteve a Viação Férrea Campinas-Jaguariúna operando entre a Estação Anhumas e a Estação de Jaguariúna. A administração municipal da época desapropriou o entorno da estação e retirou os trilhos e a ponte, fazendo com que a ABPF tivesse de construir uma pequena estação, como o nome da antiga estação (Jaguary),[2] do outro lado do Rio Jaguari, a partir da qual as composições voltavam de ré. Em 2006, a Prefeitura de Jaguariúna comprometeu-se a construir a extensão de 1.200 metros da pequena estação existente para que a antiga estação de Jaguariúna retomasse sua função original.
Fonte - Agência Anhanguera