Idoso de 80 anos é preso suspeito de matar o cão da vizinha, que invadiu sua chácara
Por Fábio Estevam / Jornal de Jundiaí
Um cachorro da raça Pitbull foi morto com um tiro em uma chácara em Itatiba, na noite deste domingo (10). O animal havia fugido de sua casa, a cerca de 600 metros do local onde foi alvejado. De acordo com o proprietário da chácara, um idoso de 80 anos, suspeito de ter feito o disparo, ele disse que o matou em legítima defesa, após ele e seus animais terem sido atacados pelo cão. Baseado em indícios que contrariam sua versão, o delegado Rodrigo Carvalhaes, em seu primeiro caso de flagrante de maus-tratos contra animais, o prendeu em flagrante e ainda representou perante à Justiça por sua prisão preventiva.
Era perto de 19h30 quando a Polícia Militar foi acionada pela dona do animal, para atender a um caso de maus-tratos com disparo de arma de fogo. Chegando ao local, os policiais fizeram contato com a solicitante, que deu sua versão - e depois ratificou na delegacia -, de como tudo aconteceu. "Eu estava na minha casa quando meu filho me ligou afirmando que esse vizinho havia matado nosso cachorro de estimação com disparos de arma de fogo, inclusive me mandou uma foto dele no chão. Logo fui até o local do crime, que fica a uns 600 metros da minha casa, e encontrei meu cachorro abatido, já em estado de rigidez. Eu contei cinco disparos de arma de fogo no seu corpo. Então, liguei para a polícia e providenciei que levassem o cachorro para minha casa para ser enterrado. Ele não vivia solto, mas hoje ele fugiu e foi para a chácara desse homem. Na quinta-feira ele também fugiu e foi para a chácara dele, onde pegou algumas galinhas. Apesar disso, é um cachorro manso, inclusive vivia na presença de crianças. Ele tinha 2 anos".
Os policiais então foram até a chácara do idoso, onde ele se apresentou e entregou sua espingarda - ele não tem autorização para tê-la, portanto a arma é ilegal. Ele contou aos militares (e depois ratificou ao delegado Carvalhaes), a sua versão: "um cachorro invadiu e estava agressivo, inclusive tentou me pegar. Então, eu fiquei muito irritado, peguei minha espingarda e efetuei apenas um tiro no animal, matando-o. Foi só um disparo, mas a munição usada é daquelas que tem várias unidades dentro do cartucho. Essa é uma arma de família, antiga, que eu herdei. A munição alguém me deu, mas faz muito tempo, nem lembro mais. Esclareço que há uns 15 dias esse mesmo cachorro já tinha invadido minha propriedade e matado uma cabra minha. Mas eu reconheço que não agi da melhor forma, e poderia ter dado só um disparo para cima para espantar o animal. Também sei que eu não podia ter em minha casa uma arma de fogo sem registro".
NA DELEGACIA
Após receber voz de prisão, o idoso foi levado para a delegacia, onde Carvahaes ouviu os envolvidos e tomou sua decisão: "Nessa fase de apuração preliminar, reputo configurado o estado flagrancial, porquanto o indiciado foi surpreendido enquanto possuía e mantinha sob sua guarda, no interior/dependências de sua residência, uma espingarda calibre 36, de uso permitido, com dois cartuchos, o que fazia sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Além disso, o indiciado foi abordado logo após praticar abuso contra cão de estimação, por meio de disparos com referida arma de fogo, que causaram-lhe a morte" explicou o delegado, que completou. "Frise-se, por oportuno, não convencer a afirmação do averiguado de que agiu em legítima defesa, pois não há provas de que o cão tenha lhe agredido ou avançado sobre animais de sua criação; e porque para matar o cachorro teve que se 'preparar', ou seja, ingressar na sua residência (onde já estava abrigado de qualquer perigo) e buscar sua espingarda, para somente depois localizar o animal e abatê-lo injustamente. Ademais, poderia (e deveria) primeiro ter efetuado disparo de alerta, objetivando espantar o animal".
Após prendê-lo em flagrante, Carvalhaes então representou por sua prisão preventiva. "A segregação cautelar é imprescindível à garantia da ordem pública. Os fatos são objetivamente graves, pois trata-se de maus-tratos a animal de estimação, injustamente morto com disparo de arma de fogo, sendo que este artefato não possui registro. E por meio desse comportamento explosivo o indiciado demonstra que é agressivo e que em liberdade voltará a praticar crimes contra outros animais ou até mesmo contra seus vizinhos, não devendo ser sua idade avançada pressuposto único para responder ao processo em liberdade".
O idoso foi levado para o Centro de Triagem de Campo Limpo Paulista, onde vai aguardar para ser submetido a audiência de custódia nesta segunda-feira (11).