EUA acusam executivos de pagar propina por contratos com a Petrobras entre 2010 e 2018
Os acusados são o americano Glenn Oztemel e o ítalo-brasileiro Eduardo Inecco, que atuam na importação e exportação de petróleo, gás e combustíveis
Foto: Fernando Frazão/Ag. Brasil
Por Nicola Pamplona/Folhapress
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos informou nesta sexta-feira (17) que procuradores do estado de Connecticut acusam dois executivos de corrupção para fechar contratos com a Petrobras entre 2010 e 2018.
Os acusados são o americano Glenn Oztemel e o ítalo-brasileiro Eduardo Inecco, que atuam no segmento de importação e exportação de petróleo, gás e combustíveis. Segundo as investigações, eles pagavam propinas para executivos da estatal beneficiarem duas empresas americanas.
A Petrobras disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que é vítima dos crimes e que colabora com as investigações tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos desde 2014. A reportagem não conseguiu ainda os contados de Oztemel e Inecco.
Eles são acusados de conspiração, de violar a lei anticorrupção dos Estados Unidos e de lavagem de dinheiro, crimes com penas que podem chegar a 25 anos de prisão. O caso é investigado pelo FBI (Federal Bureau of Intelligence), a polícia federal americana.
O Departamento de Justiça não divulga os nomes das empresas. Oztemel trabalhou para a Freepoint Commodities, baseada em Stamford, no estado de Connecticut. Inecco era consultor no Brasil para as empresas investigadas.
O Departamento de Justiça diz que Oztemel e Inneco usavam linguagem codificada para se referir a propinas e comunicavam-se entre si e com seus comparsas usando contas de e-mail pessoal, nomes fictícios e aplicativos de mensagens criptografadas.
Segundo a agência Reuters, Oztemel foi preso na quarta (15) na Flórida, mas liberado após pagamento de US$ 3 milhões em fiança.
A Freepoint chegou a ser investigada pela Operação Lava Jato, como parte de um esquema de corrupção na comercialização de petróleo e derivados, que também envolvia o pagamento de propinas sob a forma de comissões para fechar contratos.
Em 2020, um ex-operador da Petrobras chamado Rodrigo Garcia Berkowitz assinou acordo de delação premiada para falar sobre o esquema. Berkowitz atuou como trader da Petrobras em Houston até o final de 2018, quando foi acusado de aceitar propinas.
Outras empresas do setor investigadas no Brasil, como as tradings Glencore e Vitol, aceitaram pagar multas no exterior para encerrar as negociações sobre propinas em contratos da Petrobras.
A Freepoint disse que Oztemel se aposentou há mais de dois anos e que os atos atribuídos ao executivo violam suas políticas de governança. "A Freepoint não tolera corrupção ou práticas ilegais", afirmou a companhia, em e-mail enviado à reportagem.
Em nota, a Petrobras diz que é vítima dos crimes desvendados pela Operação Lava-Jato, "sendo reconhecida como tal pelo Ministério Público Federal e pelo Supremo Tribunal Federal", atua como coautora em 32 ações de improbidade administrativa e é assistente de acusação em 90 ações penais.
"A companhia colabora com as investigações desde 2014, incluindo as investigações do DoJ (US Department of Justice), que motivaram a ação noticiada", afirma a nota.
"Cabe salientar que a Petrobras (incluindo suas subsidiárias) já recebeu mais R$ 6,7 bilhões, a título de ressarcimento em decorrência de acordos de colaboração, leniência, repatriações e renúncias relativos aos ilícitos dos quais foi vítima."