Especialista da USP analisa como empresas devem se preparar para crescimento da geração Z no mercado de trabalho
Pesquisa mostra que a geração Z, definida por pessoas que nasceram entre 1997 e 2010, vai representar aproximadamente 30% da força de trabalho no mundo até o próximo ano
Foto: Govesp
A professora Adriana Cristina Ferreira Caldana, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, destaca as diferenças entre as gerações anteriores e as atuais no mercado de trabalho, ao comentar pesquisa da plataforma Intelligent que mostra que seis em cada dez empregadores já demitiram trabalhadores da geração Z que foram recém-formados por várias universidades pelo mundo. Os principais motivos para as demissões foram falta de motivação ou iniciativa (50%), habilidade de comunicação precária (39%) e falta de profissionalismo (46%).
“Hoje em dia, os estudos falam que as gerações duram cinco anos e esse tempo é suficiente para uma mudança geracional. O que seria isso? Uma mudança de lógica, perspectiva, valores do que aquele grupo espera da vida. Com a entrada de pessoas da chamada geração Z no mercado de trabalho, ainda sob a liderança da geração Y, ou mesmo da geração X, acontecem conflitos por uma questão de diferenciação de valores.”
Adriana aponta que não é questão de despreparo, mas sobre ter uma outra perspectiva. “A geração Z tem outra perspectiva de tempo para as coisas. Eles são muito imediatistas, precisam lidar com a questão da angústia e ansiedade. Às vezes, as próprias empresas não dão conta de auxiliar nessas questões.”
A pesquisa do Intelligent também mostrou que a geração Z, definida por pessoas que nasceram entre 1997 e 2010, vai representar aproximadamente 30% da força de trabalho no mundo até o próximo ano. Segundo a professora, é necessário que o mercado de trabalho passe por uma reestruturação. “É o que já está acontecendo pela presença da inteligência artificial generativa, pela reconfiguração dos postos de trabalho, novos modelos, práticas e contratos de trabalho. Aquelas empresas que ficarem com questões muito arraigadas de cumprimento de controle de horários e trabalho presencial, que se mantêm no modelo mais tradicional, vão sofrer com a chegada da geração Z nos postos de trabalho.”
Questão emocional
O problema não está apenas no mercado de trabalho, mas é preciso que a nova geração consiga lidar com seus aspectos emocionais, afirma a professora. “Esses jovens são muito competentes para fazer trabalhos ágeis e tecnológicos, mas pouco competentes para lidar com aspectos emocionais.” Adriana diz que as empresas precisam ter mais mentorias e mais tato para lidar com essa nova perspectiva de vida, por meio de horários flexíveis e semanas compactas, por exemplo.
A professora aponta que os jovens do ensino superior e fundamental estão com falta de perspectiva para o futuro. “Em um mundo onde muitas pessoas se tornam influencers digitais e prometem ganhos rápidos, acaba ficando difícil ter consciência de que estudar e se dedicar à sua carreira são os caminhos para o sucesso.” Por isso, Adriana acrescenta que o papel da universidade é fazer com que os jovens pensem em problemas reais do mundo. “As faculdades dão essa perspectiva de formação complexa, valores, pensar em soluções e elas estão cumprindo muito bem o papel de formar pessoas.”