Jornal de Itatiba Portal de notícias de Itatiba

Menu
Entretenimento
Por Roberto

Escritora traz à tona reflexões sobre relações interpessoais em romance lírico: ‘Dizer sem dizer’

Mostrar visão ambígua sobre o mundo foi um dos motivos que levou Jessica Cardin a usar a linguagem poética em seu livro de estreia

Por Roberto

Foto: Divulgação

Narrado de forma lírica, o romance fictício ‘Para onde atrai o azul’ conta a história da protagonista narradora Heloise, uma jovem de 25 anos que se apaixona por Heitor, seu professor de literatura. O desenrolar da paixão que se torna uma relação turbulenta foi escrito pela autora Jessica Cardin em um mês e ficou guardado por anos até ganhar forma em um livro de capa aquarela que, segundo a escritora, ao contrário da tinta a óleo, “se dissolve, quase espectral, como a personagem também se fragmenta e assoreia”. 

 

Os acontecimentos violentos, impulsionados pela vaidade e pela opressão afetiva de Heitor, chegam a sufocar a leitura da obra de Cardin e são provas dos recursos incomuns usados no estilo narrativo da autora, que, desempenhados com desenvoltura, não atrapalham o fluxo da história. A escritora inova no uso do diálogo e nas quebras de frases da narradora usando barras oblíquas - que ampliam e combinam os sentidos das ideias, proporcionando um ritmo poético ao relato. 

 

Para transportar o leitor ao mundo da protagonista, as falas de Heloise surgem em destaque menor com letras minúsculas, enquanto os diálogos do par romântico soam imponentes. “A linguagem poética tem disso: dizer sem dizer, dizer por meios que não são os mais diretos ou imediatos”, relata Cardin, explicando que a forma poética abriu a possibilidade para dizer que a protagonista enxerga o mundo de forma ambígua. “Uma coisa nunca é apenas ela, mas sempre também outra. Amor é também nojo, violência, mal estar”. 

 

A autora explica que sempre gostou de poesia, mas um dos motivos que a levou ao lirismo foi a intimidade com a música. “Raramente uma canção é meramente descritiva ou narrativa; ela sempre carrega muito do sentimento de quem canta, não apenas a palavra importa, mas o timbre, a força empregada, a emoção contida ali”, enfatiza. 

 

Cardin afirma que se preocupa com o ritmo, a melodia e o jogo de significados: “Uma pausa atribui um novo entendimento a uma palavra que vem a seguir”. Desta forma, a escritora garante que a escolha da estética lírica, “que remete imediatamente à música, foi natural, como a escolha da capa”.  

 

 

 

------ 

Trecho do livro 

"Eu perdi o apetite de uma vez. O anseio pelo Heitor se transformou em ânsia, um desconforto permanente no estômago. Perdi bem uns dois quilos naquele começo, o corpo de menina sumindo debaixo dele. 

As mulheres e as crianças são parecidas. 

Quando minha sobrinha nasceu, eu chorei.  

Chorei porque veio mulher e porque chegou parecida comigo no tudo, no detalhe. Eu pegava no colo abraçando o bebê e pensava por que não é minha? A única prece de que sou capaz; seja forte, na sua casa eu não posso te proteger (minha mãe não protegeu). Mais um tempo e eu disse ao pai dela não enlouqueci antes, eu sobrevivi; mas dessa vez eu te mato e enlouqueço e falei pra ele nunca fazer como fez comigo. Meu irmão prometeu. Quando brinca no quarto, a Letícia manda a porta aberta, não deixa fechar. Ela veio com casca, veio forte, mais inteligente do que eu fui. Eu não era como as outras, ficava em casa, desenhando, as crianças desciam pelo escorregador de todos os jeitos, havia tantas formas de brincar! Eu não conhecia nenhuma, resolvi ir de joelhos. 

 

A aterrissagem do rosto, o queixo sem freio, o corte na ponta / algo de pulsante e urgente / minha mãe correndo. O sangue era muito, nunca tinha visto tanto sangue a correr de mim. Não tínhamos plano de saúde, ela fez um curativo de ponto falso. Esparadrapos. Queixo sem pontos. Me faltou costurar na infância. O Heitor passando os dedos por meu rosto, eu sinto aquele ponto sensível, será que a dor nunca passa? Eu era pequena e burra. Eu deixei. E agora? A dor nunca passa, os dedos encontram / o corte / sabem 

exatamente 

onde machuca." 

 

----- 

Sobre a autora: Jessica Cardin (1991) é paulistana, responsável pela concepção e pelo desenvolvimento de projetos e eventos literários. Faz parte do coletivo de escritores Água na Peneira, do qual também fazem parte Mariana Salomão Carrara, Ana Squilanti, Leonardo Piana e Aline Motta, entre outros. Escreve ensaios e crítica de arte para o portal Woo! Magazine. Organiza para 2023 uma coletânea de contos inspirados na música clássica em parceria com a editora Tipografia Musical. 

 

Especificações técnicas 

Título: Para onde atrai o azul 

Autora: Jessica Cardin 

Gênero: Romance 

Formato: 14x21 cm  

Capa e projeto gráfico: Sílvia Nastari 

Imagem de capa: Adriana Bento 

Preço: R$ 54 (-20% na pré-venda = R$ 43,20) 

Páginas: 184 pp. 

Editora Quelônio 

 

tópicos

Não conseguimos enviar seu e-mail, por favor entre em contato pelo e-mail

Entendi

Nós usamos cookies

Eles são usados para aprimorar a sua experiência. Ao fechar este banner ou continuar na página, você concorda com o uso de cookies. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.

Aceitar todos os cookies