Dia Mundial da Educação Ambiental: a responsabilidade humana na preservação do planeta
COLUNA PAPO VERDE COM DANI FUMACHI
No último domingo (26), foi o Dia Mundial da Educação Ambiental, e não consigo deixar de refletir sobre a imensa responsabilidade que carregamos como espécie. Uma espécie dotada de inteligência, criatividade e sensibilidade, mas, contraditoriamente, míope – para não dizer cega – e capaz de colocar em risco a própria casa.
O que mais precisa acontecer para que a humanidade entenda que não há sobrevivência possível sem equilíbrio ambiental? Desastres climáticos? Escassez de água? Colapsos ecológicos? Isso já está acontecendo. Segundo o relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), eventos extremos relacionados ao clima aumentaram em frequência e intensidade, afetando diretamente milhões de pessoas e causando prejuízos bilionários. Ainda assim, a resposta de muitos que ocupam posições de poder continua sendo a mesma: discursos vazios, ações paliativas e promessas que só aparecem quando convêm politicamente. O Dia Mundial da Educação Ambiental virou palco para declarações genéricas de governos e corporações, que, no dia seguinte, voltam a compactuar com políticas destrutivas e práticas predatórias.
Exemplos dessa hipocrisia estão por toda parte. No Brasil, autoridades fazem discursos inflamados sobre a preservação da Amazônia, enquanto desmatamentos recordes continuam ocorrendo impunemente, financiados pelo agronegócio e pela mineração ilegal. Empresas que se dizem sustentáveis patrocinam eventos de educação ambiental, enquanto seguem despejando toneladas de plástico nos oceanos e envenenando rios com resíduos tóxicos. Nos Estados Unidos e na Europa, líderes se reúnem para conferências climáticas luxuosas, fazem promessas ambiciosas e, ao voltarem para casa, aprovam novos projetos de exploração de petróleo e gás. A incoerência grita, mas quem está ouvindo?
Hoje, não escrevo para aqueles que já compreenderam a urgência, mas para quem detém o poder e insiste em ignorá-la. Para os que reduzem a preservação do planeta a um discurso de esquerda, como se a sobrevivência da humanidade fosse uma questão ideológica. Não é! Enquanto líderes preferem proteger interesses econômicos imediatos, o planeta colapsa, hipotecando o futuro de bilhões – e quem paga o preço é a vida, em todas as suas formas. Segundo a ONU, aproximadamente 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção devido à ação humana, um número sem precedentes na história.
Mas há esperança. Em conversa com a bióloga especialista em Zoologia, Biodiversidade e Conservação, Débora Alcântara, nesta semana, discutimos como a educação ambiental pode ser um poderoso agente de mudança. Ela relatou uma transformação emblemática que deveria servir de modelo para outras regiões do mundo:
"Não se faz conservação de espécies sem educação ambiental. A educação ambiental é um processo contínuo, que vai além de palestras pontuais; é a construção de novas mentes. No Pantanal, projetos como o Instituto Tamanduá, o Instituto Arara Azul e Onçafari têm alcançado sucesso porque trabalham de forma integrada com a população local. A agropecuária é parte fundamental da cultura pantaneira, assim como a caça ilegal, que, para muitos, representa uma fonte essencial de renda para a sobrevivência. Contudo, antes de condenar esses indivíduos, é necessário ajudá-los a perceber que o animal vivo oferece benefícios muito maiores do que o morto. É crucial mostrar que existem alternativas viáveis de convivência com outras espécies e fontes de renda além da caça. Foi assim que muitos caçadores se tornaram guias de natureza, defendendo espécies ameaçadas e promovendo o ecoturismo como uma nova fonte de renda, não apenas para si próprios, mas também para suas famílias. Eles passaram a compreender a importância dos animais em seu habitat, conhecem o Pantanal como ninguém e compartilham com paixão esse conhecimento, mostrando como a educação ambiental pode transformar não apenas a vida dos animais, mas também a da própria humanidade. Educação ambiental, conservação de espécies e ecoturismo caminham juntos em prol do mesmo objetivo: preservar a vida selvagem e proteger nossa própria espécie”, finalizou.
Casos como esse mostram que a educação ambiental não é uma utopia, mas uma ferramenta concreta de transformação social e econômica. Além disso, a educação ambiental desempenha um papel crucial na conservação da biodiversidade, protegendo espécies ameaçadas, restaurando ecossistemas degradados e garantindo a manutenção de recursos naturais, como a água e a flora nativa. Programas educativos podem evitar a extinção de animais, reduzir a poluição dos rios e promover práticas sustentáveis que beneficiam tanto a natureza quanto as populações humanas.
É inaceitável que, apesar de sua importância, a educação ambiental ainda não seja uma disciplina obrigatória e enfatizada nas escolas. A formação de cidadãos conscientes sobre a relação entre humanidade e meio ambiente deveria ser um pilar da educação básica, e não tratada como um conteúdo periférico ou complementar. A falta dessa abordagem estruturada compromete o desenvolvimento de uma geração capaz de enfrentar os desafios ambientais do futuro com conhecimento e responsabilidade.
A natureza não negocia. Ela apenas responde. E a conta, quando chega, não faz distinção entre ricos e pobres, direita ou esquerda. Quando a vida colapsa, colapsa para todos. Não somos donos do mundo. Somos apenas uma parte dele. E, se não mudarmos nossos hábitos, nossos sistemas e nossas escolhas, seremos a única espécie a cavar a própria extinção com plena consciência do que está fazendo.