Denúncias sobre ‘rachadinhas’ causam abalo na Câmara de Campinas
O caso chegou ao conhecimento do Ministério Público, que está reunindo mais informações a respeito do assunto para decidir se abre procedimento investigatório
Foto: Divulgação
A suposta prática de retenção de parte do salário de assessores por políticos campineiros, a chamada 'rachadinha', chega ao conhecimento da Justiça já no primeiro ano legislativo da cidade e esquenta as relações políticas na Câmara de vereadores. O Ministério Público, por meio da Promotoria do Patrimônio Público e Social de Campinas, recebeu três denúncias anônimas sobre a prática criminosa envolvendo vereadores da cidade e abriu notícia fato para uma apuração preliminar das informações levantadas.
Na mira das denúncias que chegaram ao MP aparecem o nome dos vereadores Otto Alejandro (PL), Filipe Marchesi (PSB) e Nelson Hossri (PSD). O promotor de Justiça Ângelo Carvalhaes, por meio de assessoria de imprensa, informou que após receber as denúncias da suposta prática criminosa em gabinetes da Câmara irá solicitar um aprofundamento das informações.
As representações envolvendo a 'rachadinha' por parte de parlamentares da cidade foram todas anônimas, informou o MP. Em um dos casos o canal usado foi a ouvidoria do Ministério Público. Além dos nomes dos parlamentares, as denúncias trazem informações sobre como o procedimento ocorre, bem como o nome de pessoas responsáveis pela coleta do dinheiro, além de assessores envolvidos.O curioso nas denúncias da 'rachadinha' envolvendo a Câmara de vereadores de Campinas é que a prática não fica restrita aos assessores de gabinete parlamentar. Elas citam assessores lotados em outras esferas do poder público, supostamente, detentores de cargos indicados pelos parlamentares, e que também fariam parte do esquema de devolução de parte dos salários.
O Ministério Público informou que a partir do procedimento preliminar de apuração foi dado para a Câmara Municipal 30 dias para o envio de resposta aos ofícios, fornecendo no período nomes e qualificações de todos os assessores dos vereadores citados, desde 1º de janeiro deste ano, inclusive os exonerados no período. Segundo informações da Câmara Municipal, oficialmente, as denúncias e os ofícios enviados pela promotoria não chegaram à Câmara.
O Ministério Público tem 30 dias, prorrogáveis por mais 90, para arquivar ou instaurar um inquérito civil. "Mesmo sendo iniciadas por denúncias anônimas, o Ministério Público tem que fazer uma apuração preliminar para indeferir e arquivar ou para instaurar um inquérito civil", explica a promotoria, via assessoria de imprensa.
A onda de denúncias anônimas envolvendo parlamentares da cidade começou com o vereador Filipe Marchesi (PSB). Ele foi alvo da acusação de suposta prática de 'rachadinha' no início de novembro. Folhetos anônimos, com a foto do parlamentar foram espalhados na região do bairro São José, reduto eleitoral do parlamentar. O vereador negou as acusações na época do fato. Ontem, procurado pela reportagem do Correio Popular, o vereador não foi localizado para comentar o fato de a denúncia ser alvo agora de investigação preliminar do MP.
Outro parlamentar que vê seu nome envolvido nas denúncias é Nelson Hossri. O vereador desmente de forma categórica a prática criminosa e afirma que o MP não encontrará nada relacionado ao seu nome no suposto esquema. "Jamais peguei dinheiro dos meus assessores. A denúncia contra mim foi feita por uma pessoa que trabalhava no meu gabinete como assessor e foi exonerado quando a Câmara Municipal recebeu uma ordem judicial para exonerar dois servidores do gabinete. Ele nunca aceitou a demissão. Parece ser uma vingança pessoal", explica.
O vereador disse acreditar em perseguição por motivação política. "Em uma semana virei racista, homofóbico e corrupto. Irei tomar todas as medidas legais", afirmou. O vereador se refere à Comissão Processante instaurada na Câmara em que ele está envolvido. A CP apura supostas ofensas racistas feitas contra a vereadora Paolla Miguel (PT) por um manifestante, que seria apoiador do vereador, numa sessão da Câmara no dia 8 de novembro.
A denúncia contra o vereador Otto Alejandro teria sido feito por meio de reprodução de conversas transmitidas por meio de aplicativo de mensagens via celular. A reportagem do Correio entrou em contato, ontem, com o vereador para ele comentar as denúncias e a manifestação do MP, e foi informado por uma assessora parlamentar que ele estaria em uma reunião. Até o fechamento da edição a reportagem não obteve retorno.
A onda de 'denuncismo' apócrifo que colocou a Câmara na mira de apurações preliminares do Ministério Público, curiosamente ganhou força após a aprovação por parte dos parlamentares, em 2ª votação, de dois projetos de lei que aumentam as remunerações dos assessores de gabinete, assessores políticos e servidores da Câmara em 2022.
As propostas que enfrentaram polêmica reajustam em cerca de 40% o salário de assessores, em um conjunto de medidas que elevam em R$ 10 milhões os gastos na folha orçamentária do próximo exercício legislativo.
Escrito por:
Rodrigo Piomonte/ Correio Popular