Conheça o Banco Mundial de Sementes: a Arca de Né da biodiversidade
COLUNA PAPO VERDE COM DANI FUMACHI
Localizado na remota ilha de Spitsbergen, no arquipélago ártico de Svalbard, Noruega, o Banco Mundial de Sementes é uma das iniciativas mais emblemáticas da humanidade para a preservação da biodiversidade. Projetado para resistir a desastres naturais e humanos, esse cofre, inaugurado em 2008, é a maior reserva de sementes do mundo, garantindo a sobrevivência de cultivos essenciais diante das incertezas climáticas, guerras e catástrofes globais.
Com capacidade para armazenar até 4,5 milhões de amostras de sementes, o Banco já recebeu cerca de 1,2 milhão de variedades, representando mais de 13 mil anos de história agrícola. Este número inclui espécies de todos os continentes e biomas, como arroz, trigo, milho e plantas adaptadas a condições extremas. Essa diversidade genética é essencial para enfrentar os desafios futuros da segurança alimentar.
Como funciona o cofre e suas colaborações
O Banco Mundial de Sementes opera como uma "cópia de segurança" de bancos genéticos regionais. Governos e instituições enviam duplicatas de suas sementes, que são armazenadas em condições controladas, a -18°C, dentro de câmaras subterrâneas protegidas por montanhas de arenito e gelo perene. Essa estrutura garante a conservação de sementes por séculos ou até milênios, mesmo em cenários extremos, como terremotos ou ataques nucleares.
Mais de 1.700 bancos genéticos ao redor do mundo colaboram com o cofre de Svalbard. Países como Estados Unidos, Índia, China e Brasil desempenham papéis significativos nesse esforço global. Em 2015, a Síria se tornou o primeiro país a retirar sementes, devido à destruição do banco genético de Aleppo durante a guerra civil. As sementes retiradas foram usadas para restabelecer cultivos no Oriente Médio, como trigo e cevada, mostrando a importância prática do cofre em crises reais.
O papel do Brasil na preservação global
O Brasil é um dos países mais biodiversos do planeta e um dos principais colaboradores do Banco Mundial de Sementes. Até 2024, o Brasil já enviou mais de 5 mil amostras, com destaque para plantas nativas da Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Recentemente, a Embrapa liderou o envio de 53 acessos de gramíneas forrageiras, essenciais para a pecuária brasileira, como espécies do gênero Paspalum. Essas gramíneas são adaptadas às condições tropicais e podem ser fundamentais em cenários de mudanças climáticas.
Além das espécies agrícolas, o Brasil também contribuiu com variedades de mandioca, feijão e arroz, que são culturas-chave para a segurança alimentar de milhões de pessoas. A presença dessas sementes em Svalbard assegura que, mesmo diante de desastres locais, a diversidade genética brasileira permaneça preservada.
Impactos e relevância para o futuro
O Banco Mundial de Sementes é uma resposta concreta aos desafios globais. Com as mudanças climáticas ameaçando ecossistemas e cultivos, a perda da diversidade genética pode limitar as opções para desenvolver variedades resistentes a secas, doenças e inundações. O cofre em Svalbard garante um plano de contingência para proteger a segurança alimentar.
Para o Brasil, iniciativas como essa representam uma oportunidade de fortalecer políticas de conservação e reafirmar seu compromisso com a sustentabilidade global. A preservação de sementes brasileiras não só protege a biodiversidade, mas também promove a pesquisa e o desenvolvimento de soluções agrícolas que podem beneficiar o mundo.
Um cofre para o futuro
O Banco Mundial de Sementes não é apenas um repositório físico; é um símbolo de cooperação global e de esperança. Ao preservar a base genética da agricultura mundial, ele garante que as gerações futuras tenham as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios do planeta.
A biodiversidade é um patrimônio compartilhado, e proteger as sementes é proteger a vida. Iniciativas como essa mostram que, mesmo diante das adversidades, a humanidade é capaz de se unir para salvaguardar o que realmente importa.