Benzetacil com menos dor: protocolo inédito potencializa tratamento de sífilis
Medida implementada pela Secretaria de Saúde reduz desconforto dos pacientes em tratamento e serve de política pública para diminuir casos da doença
Foto: Fernanda Sunega
Um protocolo inédito no Brasil implementado pela Secretaria de Saúde de Campinas tem potencializado o tratamento de pacientes com sífilis no Centro Municipal de Referência em IST, HIV/Aids e Hepatites Virais e em todos os 67 centros de saúde da cidade.
Isso porque a aplicação da injeção de benzetacil ocorre de forma associada a um anestésico local chamado lidocaína para diminuir, de maneira expressiva, a dor no momento da aplicação. Além disso, serve de instrumento para tentar reduzir casos.
O uso do antibiótico é necessário para todos os casos de pessoas diagnosticadas com a infecção sexualmente transmissível (IST). A quantidade varia conforme cada caso.
Qual era o problema?
Em regra, o uso de benzetacil costuma ser temido pelos pacientes em virtude do desconforto, incluindo dificuldade de andar após a injeção, o que fazia parte dos assistidos pela Secretaria de Saúde a ter resistência para manter o tratamento de forma adequada.
A dor decorre da agulhada e textura viscosa do antibiótico chamado penicilina benzatina. A chefe do Centro Municipal de Referência em IST, HIV/Aids e Hepatites Virais, Simone Vieira, explicou que o uso associado ao anestésico teve início em outubro deste ano, após a publicação de uma nota técnica pela secretaria com objetivo de qualificar o tratamento.
Até 2017, a mistura era restrita às gestantes e parceiros. Com a nota 10/2023, o uso foi ampliado para todos os moradores com 18 anos ou mais diagnosticados com a doença.
“Tinha gente que ficava deitada, não conseguia andar. Tinha gente que chorava, não queria fazer [...] Agora que estamos fazendo a benzetacil com lidocaína, os pacientes estão saindo mais tranquilos e voltam para fazer o tratamento”, ressaltou Simone.
Segundo ela, o benefício do protocolo vai além da redução da dor e serve para impulsionar a política pública para reduzir casos ao interromper a transmissão.
“A Secretaria de Saúde quer agregar a lidocaína em todos os tratamentos de sífilis para a gente conseguir diminuir a transmissão que está ocorrendo. Acho que outros municípios e estados vão aderir a isso porque, a partir do momento em que o paciente volta para tratar e não tem mais esse medo da benzetacil, a gente diminui a transmissão. Isso é importante”
Quanto melhorou?
A Secretaria de Saúde ainda fará um levantamento sobre resultados do protocolo recente. O Centro de Referência, por exemplo, prevê abrir nos próximos 30 dias uma coleta de informações sobre a satisfação dos pacientes com o uso do anestésico no tratamento.
“A gente vai ter mais dados daqui seis meses, um ano. Mas se a gente tem condições técnicas para minimizar a dor do paciente, a gente deve fazer isso, né? É um direito do paciente e, se ele faz tratamento adequado, ele volta e ainda fala para o amigo ou para a amiga que tomou a benzetacil e não doeu nada, para ficar tranquilo”, ressaltou.
De janeiro a agosto, a Secretaria de Saúde fez os seguintes registros para sífilis:
· sífilis congênita - 80
· sífilis em gestante - 303
· sífilis adquirida - 1.302
O teste rápido de sífilis está disponível em todos os CSs de Campinas. O resultado sai em aproximadamente 30 minutos e, caso o paciente seja diagnosticado com a doença, ele é direcionado para tratamento na unidade de saúde mais próxima da residência.