Autistas passam a ter prioridade de atendimento em serviços públicos
O projeto foi nomeado como Lei Romeo Mion, referência ao filho autista do apresentador Marcos Mion
Da Redação
O presidente Jair Bolsonaro sancionou, recentemente, a Lei 13.977/2020, que institui a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com o documento, pessoas com TEA passam a ter prioridade de atendimento em serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social. O projeto foi nomeado como Lei Romeo Mion, referência ao filho autista do apresentador Marcos Mion.
Para a psicóloga Helga Ribeiro Guimarães Neto, de 42 anos, mãe de Giovani, de 11 anos, diagnosticado com TEA aos cinco, a Lei Romeo Mion facilitará o processo de socialização dos autistas. “Irá garantir o atendimento prioritário de nossas crianças e fará com que as mesmas saiam de casa com seus direitos garantidos”, ressalta.
Helga destaca que a sociedade precisa evoluir quanto ao entendimento do que é o TEA. “Acredito que nós da comunidade autista já avançamos um pouco, mas ainda enfrentamos olhares de reprovação quando, por exemplo, pedimos prioridade num atendimento por estarmos com nossas crianças na fila, onde elas não conseguem esperar e nem permanecer sentadas”, explica.
Depoimento
A psicóloga relata que a suspeita de que Giovani era autista ocorreu quando ele tinha dois anos, mas o diagnóstico foi confirmado três anos depois. Ela conta que, num primeiro momento, a reação dela e do marido foi de susto.
“Particularmente, eu fiquei em estado de choque por alguns dias, principalmente por saber que não tem cura e o medo do futuro, de como seria nossa vida a partir daquele diagnóstico”. “Eu e meu marido superamos juntos e nosso filho iniciou as intervenções rapidamente. Começamos a ler muito sobre o assunto, conhecemos outros pais, trocamos experiências, recebemos orientações de profissionais e, como sou psicóloga, me especializei através de diversos cursos, seminários, congressos e atualmente estou cursando pós-graduação em autismo e DI. Isso tudo, somado ao nosso processo de amadurecimento, fez a gente perceber que não havia outro caminho a não ser seguir em frente”, comenta.
Ainda, segundo Helga, o atraso na comunicação verbal é a maior dificuldade que Giovani enfrenta atualmente, por isso, ele precisa manter atividades específicas. “Faz fonoaudiologia, terapia ocupacional com ênfase na integração sensorial, aula de natação, participa do projeto de musicalização da Prefeitura e já fez equoterapia no Instituto Passo a Passo”. A mãe ressalta que Giovani iniciou a educação infantil na Educativa e depois foi para o Anglo, onde permanece até hoje. “No Anglo, ele tem mediador, material adaptado e um ambiente social acolhedor”, relata a mãe.
Diagnóstico tardio
Ao contrário de Giovani, a pedagoga Pamela, de 31 anos, foi diagnosticada com TEA somente aos 30. Ela afirma ser comum o autista de alto funcionamento (grau leve) não ser diagnosticado quando criança, pois o conhecimento é escasso para esses casos.
“Para a maioria, autistas são aqueles casos severos e estereotipados. Geralmente, se a pessoa não teve dificuldade em falar ou andar, não chama a atenção, então acaba sendo visto como “timidez excessiva” ou antissocial”, explica.
Pamela afirma, ainda, que tinha a sensação de que não pertencia ao mesmo mundo que as pessoas neurotípicas (sem deficiência ou síndrome). “Não fazia parte dele [mundo], não importa onde eu estivesse”, conta.
“Ao ter mais conhecimento sobre o transtorno, observei muitas semelhanças comigo mesma, e, com a ajuda da minha terapeuta, fui atrás de especialistas; mesmo que não fosse autismo, eu vi que poderia ter uma explicação para todo o sofrimento e dificuldade que eu passei”. “Com o diagnóstico do TEA, tudo se encaixou, tudo fez sentido. Hoje, posso fazer tratamentos adequados e que me auxiliam no dia-a-dia; além do que, me respeito e me permito ser eu mesma, vivendo de uma forma incrivelmente melhor”, explica a pedagoga.