‘A vida adulta vai depender da regulação dos pais na infância’, diz profissional
Embora haja pontos positivos na relação entre os pequenos e as mídias, a internet esconde problemas e perigos
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Da Redação
De acordo com o Comitê Gestor da Internet no Brasil, em 2019, cerca de 24,3 milhões de crianças e adolescentes, entre nove e 17 anos, eram usuários da internet. Com a pandemia de covid-19 e com as crianças em casa, a internet se tornou uma das principais alternativas para a interação, estudos e diversão.
Embora haja pontos positivos na relação entre os pequenos e as mídias, a internet esconde problemas e perigos, como ataques virtuais vindos de predadores virtuais, dowloads acidentais de malwares e bullying virtual. Por isso, os pais devem ficar atentos em relação ao conteúdo que seus filhos estão acessando e o tempo que ficam conectados.
Através do Núcleo de Inteligência e Pesquisas da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor, o Procon-SP fez uma pesquisa, em agosto deste ano, para entender a relação das crianças e adolescentes de seis a 17 anos com a internet e como os pais controlam o acesso.
Dos 1.122 pais que responderam à pesquisa, 55,88% (627) possuem filhos com idade entre seis a 17 anos. Das crianças e adolescentes, apenas 8,45% não acessam a internet, por diversas questões, como não possuir acesso, por não saberem usar ou porque os pais não permitem.
O acompanhamento dos pais foi verificado na maioria dos casos, 52,26% (300), porém 43,21% (248) acessam a internet sozinhos. O conteúdo acessado pelos filhos é controlado parcialmente em 52,96% dos casos (304); 42,16% tem o controle total e 4,88% (28) não tem controle algum.
Em relação ao tempo de conexão, 32,06% (184) das crianças e adolescentes permanecem conectados mais de duas até quatro horas por dia; 27,53% (158) se conectam mais de quatro a seis horas por dia; 20,03% (115) permanecem conectados mais de seis horas por dia e 17,07% se conectam até duas horas por dia. 3,31% (19) dos pais não souberam responder quanto tempo seu filho permanece conectado.
Controle dos pais
Em entrevista ao Jornal de Itatiba, a presidente do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) afirmou que a estipulação do tempo nas mídias e do conteúdo acessado pelos filhos deve ser definido pelos pais de acordo com os valores de cada família e as decisões sobre o que cada um considera bom ou não, por isso não há uma “regra” a ser seguida nesta questão.
“A questão central é de como os pais podem colocar limites de acordo com o que eles consideram adequado para os filhos. Temos uma ideia de que os filhos têm que aceitar a regulação e limites, e, na verdade, não é bem essa a questão, mas sim de que os pais são autoridade e por isso eles devem definir o que as crianças podem fazer ou não, até que eles sejam adultos e possam regular a própria vida. A regulação da vida adulta vai depender dessa regulação dos pais na infância”.
Denise comentou que esta regulação de forma negociada e aceita não vai ocorrer, pois o conflito faz parte da situação do desenvolvimento. “Quando a criança descobrir que existe o ‘não’ ela vai reclamar. Cada vez que os pais disserem para ela fazer algo que ela não quer, ela vai chorar e brigar, e essas são expressões de frustração que fazem parte da vida. Se a gente não der oportunidade das crianças e adolescentes experimentarem a frustração e se os pais não quiserem viver em conflito, não vão conseguir educar as crianças e oferecer o que mais precisam, que é a condição de saber que existe uma autoridade e um limite, que a vida não é só satisfação. Quando o não é dito, os pais estão ajudando as crianças a se organizarem ao longo da vida e serem capazes de fazer isso por eles mesmos no futuro”.
A diretora finalizou dizendo que a falta de limites entre adultos também é uma responsabilidade importante, e que autoridade não é autoritarismo. “Autoridade significa ocupar um lugar modulador na vida dos filhos, aceitando que podem haver reivindicações, mas os valores devem ser sustentados e o mau humor e consequências disso devem ser toleradas. Isso é fundamental para o desenvolvimento psicoemocional”.